Primeiramente antes de entendermos o que é este conceito faz-se necessário definições de colonidade e decolonidade Por Milena Abreu Avila:

A Colonialidade se configurou como o “lado obscuro e necessário da Modernidade” (BALLESTRIN, 2013), ou seja, é a forma dominante de controle de recursos, trabalho, capital e conhecimento limitados a uma relação de poder articulada pelo mercado capitalista. Dessa forma, por mais que o colonialismo tenha sido superado, a colonialidade continua presente nas mais diversas formas e, sobretudo, nos discursos reproduzidos cotidianamente em nossa sociedade. De acordo com a autora Ballestrin (2013), a colonialidade é a continuidade da propagação do pensamento colonial, sendo uma matriz que se expressa essencialmente em relações dominantes de poder, saber e ser.

A ideia de Colonialidade do Poder está diretamente relacionada a globalização. Este fenômeno emergiu, essencialmente, do processo de constituição da América e da propagação do capitalismo eurocentrado, tendo como padrão de poder a classificação por raça (QUIJANO, 2005). Isto porque, na América Latina, a ideia de raça foi uma forma de legitimar as relações de dominação europeia, visto que o padrão do homem europeu era tido como superior e dotado de uma estrutura biológica/racial diferenciada (QUIJANO, 2005).

Nesse sentido, para Carvalho (2001), a colonialidade do poder consiste na identificação dos povos conforme certos fenótipos estabelecidos e impostos pelo pensamento Ocidental. Percebe-se que a raça tornou-se o instrumento de dominação mais eficaz e durável, influenciando também outros aspectos que foram utilizados para a propagação da Modernidade e do pensamento eurocêntrico, como o gênero, a sexualidade, o conhecimento, as relações políticas, ambientais e econômicas (QUIJANO, 2005).

A Colonialidade do Poder submete os dominados/colonizados a uma situação de inferioridade. Essa ideia resultou em comportamentos e discursos propagados que ainda podem ser percebidos em nossa sociedade, como por exemplo, o racismo.

Um exemplo clássico da manifestação da colonialidade do poder é a classificação dicotômica entre humanos e não humanos, civilizados e selvagens, nós (Ocidente) e outros (Oriente), que se referem a uma distinção hierárquica, ou seja, que estabelece a distinção entre bom e ruim ou entre um melhor e o outro pior, imposta aos povos colonizados pelos colonizadores. Em suma, de acordo com Lugones (2014), a colonialidade do poder é a base do pensamento colonial, sendo essa o pilar central tanto da colonialidade do saber como também da colonialidade do ser.

A Colonialidade do Saber também é derivada do pensamento moderno, sendo um fenômeno que estabeleceu o desenvolvimento de um padrão de conhecimento global, hegemônico, superior e naturalizado (LANDER, 2005). Basicamente, entende-se que a colonialidade do saber é expressa pela negação ou invisibilidade do conhecimento produzido pelos países marginalizados pelos povos do Ocidente, sendo estes últimos considerados durante muito tempo superiores racionalmente e intelectualmente.

Nesse sentido, por exemplo, podemos notar em nosso cotidiano a relevância dada aos pesquisadores e estudos internacionais e/ou Ocidentais -como de países europeus e norte-americanos-, muitas vezes desvalorizando o conhecimento produzido em países, ditos, periféricos

Outra situação muito comum que está intrínseca a colonialidade do saber é a desvalorização de produtos e conhecimentos locais, muitas vezes submetidos a classificação do senso comum, como o uso de plantas medicinais pelos povos indígenas, as práticas culturais, os saberes e fazeres de determinados grupos, os produtos nacionais e até mesmo o uso da medicina oriental/alternativa.

Por fim, a Colonialidade do Ser está diretamente relacionada a inferioridade atribuída aos povos subalternizados, ou seja, aqueles grupos que foram silenciados, oprimidos e colocados à margem da sociedade, como os negros, os índios, as mulheres, os mestiços, os LGBTqia+ dentre outros (ALCÂNTARA; SERRA; MIRANDA, 2017).

Dessa forma, a Colonialidade do Ser surge como uma perspectiva para diferenciar os povos em relação ao gênero, a raça e a sexualidade, sendo que essas “diferenças” são atribuídas visando inferiorizar esses grupos, a fim de fortalecer a dominação de determinados povos com o intuito de se manter a exploração.

Nesse sentido, muitos valores, identidades e costumes tendem a se perder, devido ao sentimento de inferioridade e não pertencimento de muitos grupos.

Assim, a Colonialidade do Ser refere-se à “experiência vivida da colonização e o seu impacto na linguagem” (MALDONATO-TORRES, 2017). Isto porque os povos subalternizados são submetidos como inferiores, sendo negados com relação a sua intelectualidade, racionalidade e capacidade, em contraposto ao padrão do homem europeu, branco, burguês, racional e civilizado.

Nesse sentido ocorre a desumanização, ou seja, a perda da existência do ser, tanto em relação ao ato de existência do ser humano como também em relação às suas capacidades e valores éticos e morais, postos à comparação do padrão colonizador. Um exemplo seria a negação da existência dos povos indígenas durante o período colonial, em que eram considerados como povos selvagens, não civilizados e “sem alma”.

Percebe-se que o processo histórico da modernidade visou organizar o mundo de modo a categorizá-lo de forma homogênea, universalizada e fragmentada (países centros e periféricos), sendo este pensamento muitas vezes manifesto e reproduzido cotidianamente nos dias atuais.

O conceito de decolonialidade surge como uma proposta para enfrentar a colonialidade e o pensamento moderno, principalmente através dos estudos do grupo MCD (Modernidade, Colonialidade e Decolonialidade) compostos por estudiosos comoAníbal Quijano (2005), Catherine Walsh, Edgard Lander (2005), Enrique Dussel (2000), Nelson Maldonado-Torres (2017) e Walter Mignolo.

A decolonialidade é considerado como caminho para resistir e desconstruir padrões, conceitos e perspectivas impostos aos povos subalternizados durante todos esses anos, sendo também uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo.

O pensamento decolonial se coloca como uma alternativa para dar voz e visibilidade aos povos subalternizados e oprimidos que durante muito tempo foram silenciados. É considerado um projeto de libertação social, político, cultural e econômico que visa dar respeito e autonomia não só aos indivíduos, mas também aos grupos e movimentos sociais, como o feminismo, o movimento negro, o movimento ecológico, o movimento LGBTqia+, etc

A visão decolonial está cada vez mais presente em vários ramos do saber desde a história, filosofia e aumentando e hoje alguns falam em Bruxaria Decolonial. A visão colonial sempre valoriza o europeu e desvaloriza outros povos e hoje muitas tradições de bruxaria brasileiras tem tido mais visibilidade, sobretudo pela nossa herança africana e indígena.

Falar em decolonidade é fácil mas praticar a desconstrução dos valores impostos é difícil posto que há muitos na comunidade da bruxaria brasileira que praticam fés estrangeiras que muitas vezes conflitam até com a sazonalidade das estações desse grande país.

Este texto propõe reflexão e não conflito.

O horror absoluto do brasileiro as bruxarias heréticas que são e foram um símbolo de resistência no Brasil como “ a velha forma de fazer as coisas” é uma forma de colonialidade e intolerância religiosa desta mesma forma de pensamento.

A intolerância religiosa anda de mãos dadas com a colonialidade e em nosso país temos um monte de dedos apontados as práticas oriundas do continente africano, práticas marginais de bruxaria e espiritualidade.A colonialidade tem nome e lugar de fala nas classes sociais superiores e na pretensa classe média, com um estigma de superioridade, riqueza, nobreza e de se achar um pequeno europeu tão ultrapassado e cafona para os dias de hoje.

O saber decolonial e libertário é praticado dando voz ao indígena e as pessoas pretas de nosso país, se desconstruindo todos os dias principalmente aos que nasceram em berço colonial. Entender nossa cultura e história multifacetada é se afastar da ignorância, preconceitos e idéias ultrapassadas e desumanas.

A valorização das etnicidades que constituem os saberes originalmente brasileiros está no povo, não na elite. Portanto existe uma rica bruxaria brasileira derivada dessa cultura que nos tempos coloniais resistiu e ainda é transmitida por alguns de seus descendentes ao pé do ouvido.

“A diversidade faz frutificar um leque de multiplicidade de saberes e distancia o pensamento de verdades únicas, pasteurização e controle do saber e da religião.“

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